7.4.11

SONHO DUMA VÉSPERA DE EXAME

SONHO DUMA VÉSPERA DE EXAME
UM SERÃO EVOCATIVO DA ESTREIA DA PEÇA DE
JOSÉ RÉGIO, 75 ANOS DEPOIS...


No passado dia 30 de Março, no auditório da Escola Superior de Educação, mais ou menos à hora em que, há 75 precisos anos, o extinto Teatro Portalegrense estreava uma peça da autoria do prof. Reis Pereira, intitulada Sonho duma Véspera de Exame, aconteceu uma solene evocação de tal facto. Escrita propositadamente para os seus alunos do Liceu de Mousinho da Silveira, essa peça teve como principal protagonista o jovem que seria mais tarde o grande actor Artur Semedo.
Esta obra teatral esteve durante longos anos completamente ignorada, até ao dia 5 de Outubro de 1984, quando foi novamente à cena, por intermédio da Companhia de Teatro d’O Semeador, de Portalegre. Isso aconteceu no mesmo local, o antigo teatro já desactivado, tendo sido expressamente convidado Artur Semedo que, emocionado, evocou os seus tempos de vida em Portalegre e aqueles remotos princípios da sua fabulosa carreira.
Só em 1989, incluída nas comemorações dos 20 anos da morte do autor, foi publicada em livro tal peça, por iniciativa da Câmara Municipal de Vila do Conde, terra natal de José Régio.
Esta recente evocação foi organizada pelo Instituto Politécnico de Portalegre, pela Escola Superior de Educação e pela nossa Associação, repetindo-se uma parceria que muito nos honra e para cuja continuação manifestamos a nossa permanente disponibilidade.
O evento contou com alguns convidados especiais, nomeadamente personalidades locais que nele colaboraram activamente, assim como representantes das Três Escolas de Régio (Escola Superior de Educação, Secundária de Mouzinho da Silveira e Básica 2/3 de José Régio), que ainda há pouco aqui desenvolveram um interessante programa a pretexto dos 80 anos da chegada do prof. Reis Pereira (José Régio) a Portalegre (2009/2010). Também recebemos a honrosa e prestigiante visita de algumas personalidades muito próximas dos protagonistas de 1936, como João Francisco Marques, professor universitário jubilado, membro da última tertúlia regiana em Vila do Conde/Póvoa de Varzim e hoje presidente da Direcção do Centro de Estudos Regianos; António Atanásio, advogado, participante na récita de 1936, como jovem ginasta; Florindo Madeira, advogado, membro da última tertúlia regiana em Portalegre; João Semedo, médico e parlamentar, e sua irmã, D. Paula Cristina Semedo, sobrinhos do actor Artur Semedo; Augusto Rolo Tavares, arquitecto, filho do pintor e professor João Tavares, colega e amigo de Régio, autor dos cenários e dos figurinos originais do Sonho; Fernando do Rosário, portalegrense e espectador da estreia de 1936, aos 8 anos de idade...
O dia de evocação começou, pelo final da tarde, com a concentração dos convidados junto à Casa Museu de José Régio, onde simbolicamente, junto ao busto do Poeta, foi registada a “fotografia de família”. Depois de receberem uma pasta com documentação alusiva, e num autocarro do Instituto Politécnico, os elementos do grupo deslocaram-se às antigas instalações do Teatro Portalegrense, onde hoje se encontra a sede local da Casa do Benfica. Aí, em nome da organização, o nosso consócio prof. António Martinó fez uma breve descrição do edifício e da sua vida durante cem anos (entre os meados dos séculos XIX e XX) no seio do mundo da cultura local, que atingiu por vezes um raro e dinâmico brilhantismo sobretudo no campo do teatro, incluindo o académico. Também o Doutor João Marques deliciou os presentes com a descrição emocionada dum capítulo pessoal, decisivo embora ignorado, da crónica da peça Sonho duma Véspera de Exame.
O passo seguinte aconteceu nas instalações da novel Escola de Hotelaria e Turismo de Portalegre onde o presidente da Entidade Regional de Turismo do Alentejo, Ceia da Silva (ausente por anterior compromisso em Monsaraz) quis associar-se ao evento, oferecendo uma refeição-convívio aos convidados. Recebidos pela directora da Escola, eng.ª Conceição Grilo, os participantes foram a seguir obsequiados com um belo jantar, onde primaram algumas das nossas especialidades regionais, servidas por alunos dos cursos ali ministrados.
À noite, aconteceu o sarau evocativo.
Abrindo a sessão, o director da Escola Superior de Educação saudou os presentes, que em número considerável quase preenchiam o vasto auditório, anunciando a próxima organização e disponibilidade, na Internet, de uma página dedicada a José Régio, assim concretizando uma intenção já colectivamente manifestada desde as anteriores comemorações. Depois, passou a palavra ao prof. António Martinó, a quem coube a apresentação da sessão.
Agradecendo a todos os que tinham permitido a recolha e organização do vasto e quase ignorado material informativo, passou depois a descrever a sequência de sete sucessivas apresentações multimédia, do tipo diaporama informatizado, com imagens, textos, animações, “clips” de vídeo e bandas sonoras adequadas, através das quais seria revelada uma sequência narrativa lógica, destinada sucessivamente a evocar, e justificar, cada passo e episódio duma crónica fascinante.
Assim, foi possível recordar a formação académica essencial do jovem José Maria (o futuro José Régio) e o agitado contexto político então vivido; depois, a sua criativa cumplicidade criativa com o grande amigo Manoel de Oliveira, de fundamental importância na sua vocação teatral; a produção dramática pessoal, com especial incidência na menos divulgada e conhecida; as incidências sofridas durante a sucessiva produção regiana nos domínios cénicos, sobretudo no respeitante à implacável acção da censura do Estado Novo; os permanentes dramas interiores vividos por José Régio, em função da esperança sempre depositada em cada obra teatral, quase sempre frustrada por implacáveis desígnios contrários; a interessante história portalegrense da peça Sonho duma Véspera de Exame em função do desconhecimento “alheio” dessa mesma peça; finalmente, pelo confronto da sucessiva informação anterior, devidamente organizada, pretendendo-se atingir uma explicação lógica para a atribulada crónica da peça.
Assim decorreu mais um evento centrado na Vida e Obra de José Régio, que em Portalegre deve ser justamente considerado como um dos seus mais sólidos patrimónios culturais.